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O Governo não teve a humildade de aprender nada com os incêndios de Pedrógão Grande, como não retirou qualquer ensinamento da derrocada de uma estrada junto a duas pedreiras em Borba.
Há dois traços comuns nos dois acontecimentos. O Governo não soube assumir a autoridade de Estado em que está investido e não fez o que lhe competia na reparação dos danos. E o Primeiro-Ministro, como se repetiu no caso de Tancos, nunca sabe de nada. Nunca nada que corra mal é com ele.
Ao contrário da demissão do ministro Jorge Coelho, em 2001, na sequência do desabamento da ponte de Entre-os-Rios, os atuais governantes socialistas têm optado, sistematicamente, por sacudir a água do capote, alimentando uma cultura decisória, entre a cobardia a hipocrisia política.
As tragédias acontecem e Governo parece desprezar a inteligência das pessoas. Ficamos a saber, há dias, que a IP - Infraestruturas de Portugal, empresa exclusivamente de capitais públicos, lançou um concurso para a construção de um Memorial às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, orçado em 1,8 milhões de euros.
O valor da empreitada constitui uma verdadeira afronta a todos os portugueses, mas sobretudo às próprias vítimas, em particular e representa uma contradição moral insanável, quando comparada com os 2,5 milhões de euros disponibilizados pelo Fundo REVITA, que vai financiar o apoio às populações e à revitalização das áreas afetadas pelos trágicos incêndios de 2017.
Não há preço nenhum que pague o valor de uma vida e, depois de o Estado ter falhado na sua função de proteger, a melhor homenagem que o Governo poderia prestar àqueles que perdemos para os incêndios, era tratar com dignidade os sobrevivos, tentando pelo mau exemplo, emendar a mão.
Quando ainda está por fechar o capítulo da reparação dos prejuízos dos fogos na região Centro, com centenas de casas por reconstruir, o Governo permite-se gastar quase 2 milhões de euros para erigir um lago, uma fonte e um mural. Este modo de cuidar e gerir os recursos públicos é uma aberração e uma contradição completas. O Governo atenta contra a dignidade das famílias que perderam casas, bens e sobretudo, os familiares enlutados, cujas vidas foram interrompidas por um destino cruel, perante o qual um Estado negligente e desgovernado, soçobrou.
No caso de Pedrógão, por exemplo, será que o Governo está a fazer o que lhe compete na limpeza dos terrenos e das matas ou, mais uma vez, vai correr atrás do prejuízo? E no reforço dos meios e recursos para as corporações de bombeiros e forças de segurança, o Governo poderá garantir que não lhe vai faltar nada quando começar a época estival? E o que tem feito o Governo para exigir às empresas o respeito das normas de manutenção e vigilância das redes elétricas? A rede SIRESP vai mesmo funcionar quando precisarmos de comunicações operacionais, em caso de emergência real?
Quando Portugal lidera, pela quarta vez, a presidência do Conselho da União Europeia, e com a promessa da chegada de mundos e fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, o Governo dá-se ao luxo de desbaratar 2 milhões de euros num memorial. Esta gestão leviana dos dinheiros nacionais também não pronuncia, nem inspira confiança alguma quanto à execução rigorosa dos apoios comunitários. É expectável que, infelizmente, e na mesma escala, dezenas de projetos não acrescentem nada de estrutural para a economia, servindo apenas o compadrio, o desperdício e as redes de interesses em torno dos fundos de Bruxelas. Podemos até chamar-lhes os filhos dos PRRgates.
Recentemente, um deputado socialista defendia a demolição do Padrão dos Descobrimentos. É a irracionalidade e o disparate a tomar conta da agenda socialista. Um vírus que se tornou banal nos dirigentes e governantes socialistas. O que o referido deputado ainda não se lembrou foi de propor que, em vez de destruir a memória coletiva, se erguesse um monumento nacional à asneira em ascensão. O PS segue, cada vez mais, o padrão do absurdo.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre